segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"O Presidente"


Um pintor que não tinha jeito para as cores, mas pegava bem no pincel, foi escolhido para maestro da banda.

A escolha foi feita pelo presidente da cidade, que era praticamente surdo, mas apreciava os gestos minuciosos do pintor. Foi a sua primeira e única decisão.


O presidente tinha sido eleito porque era muito indeciso e pelo menos assim não incomodava ninguém. A população, no entanto, quando  ouviu o primeiro concerto da banda, revoltou-se.

Voltem a dar uma tela ao maestro! Alguém gritou.

O presidente, satisfeito, depois da sua primeira decisão ao fim de quatro anos, e julgando que a população estava a gritar Bis, decidiu candidatar-se a um segundo mandato.

A população, apesar da música, elegeu-o.


texto "O Presidente", de Gonçalo M. Tavares, in o Senhor Brecht

8 comentários:

  1. Gosto de pssar por cá, mas nunca comentei. Hoje ao ler lembrei-me do ditado:"Porque é que o sapateiro toca tão mal rabecão?"

    Boa semana.

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  2. Que daríamos ao senhor presidente cá do país - não uma tela, certamente! Talvez um quadrinho a meio ponto...

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  3. Aposto que a população que elegeu o presidente em causa "levou" anos com a expressão:"Se soubesses o que custa mandar, preferias obedecer toda a vida."
    Por a ler tantas vezes por cima da porta da reitoria do meu liceu é que eu não gosto de mandar. Gosto muito mais que me obedeçam...

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  4. Carol:
    A cor da linha deve ser cinzenta, só para não destoar...

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  5. Isabel:
    “Pois é preciso que gritemos tão alto a verdade, que demos tal relevo à verdade que os surdos a ouçam e os próprios cegos a vejam”, dizia ele. Agora pergunto eu, o que é a verdade?

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