sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Brado!



Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos


(Eugénio de Andrade )



Bom fim de semana! 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Pesar...

António Aleixo - Praça da República - Loulé
(Junto ao Café Calcinha)
Autor: Lagoa Henriques



Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar…
só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!

Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.


António Aleixo


sábado, 22 de novembro de 2014

Apesar das ruínas e da morte



Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

As Mãos


Óleo sobre Tela 80 x 120 cm
"As Mãos"
Rui Pascoal - 2014


AS MÃOS

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre, in "O Canto e as Armas", 1967

sábado, 8 de novembro de 2014