sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

De Boas Intenções...


Em época de balanço deixo-vos as minhas intenções para o próximo ano que se prevê mais difícil do que este que passou. Como ”infelizmente” não fumo, esta seria uma óptima ocasião para o deixar de fazer, logo, não vou poder poupar no tabaco, azar o meu.

Andar a pé e de bicicleta, ir à piscina, ler, aprender a desenhar e pintar, jogar xadrez, dedicar-me ao quintal como ele merece, viajar se possível e sem bagagem, observar muito, pagar impostos (que remédio), ser exigente com os outros e sobretudo comigo, envelhecer com charme sem pintar o cabelo, sorrir muito sem receio das rugas de expressão. No fundo eu pretendo fazer aquilo que já faço mas de um modo muito mais aplicado, mais maduro, até cair, como a fruta das árvores, de podre.

E ainda, o que será extremamente difícil senão mesmo impossível (não é o Sporting poder ganhar o campeonato), ser simultaneamente um filho um marido e um pai mais extremoso do que já sou. Estarei a ser demasiado modesto ou é a fasquia que está muito elevada?

A todos aqueles que me têm visitado, públicos e anónimos, e também os outros que silenciosamente me acompanham Votos de BOM ANO.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ainda é possível sonhar...

Sempre fui ainda o sou e pretendo continuar um eterno sonhador. Talvez seja essa a razão pela qual prefiro a poesia deste Alegre Manuel em vez da prosa triste do Sr. Silva.


Letra para um hino

É possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.

É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

Manuel Alegre


Será Amor?

Este meu estado febril que se arrasta...



O amor é o amor - e depois?
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito
cortando o mar, cortando o ar.

Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois?

- espírito e calor!

O amor é o amor - e depois?
 


Alexandre O´Neill

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Estado gripal

Desta vez tocou-me a mim...




Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusex un peu ...Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.

Álvaro de Campos

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Mezinha, para usar até passar

Sísifo

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

  
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga

domingo, 26 de dezembro de 2010

Reflorir, sempre

Não é já de Natal esta poesia.
E, se a teus pés deponho algo que encerra
e não algo que cria,
é porque em ti confio: como a terra,
por sobre ti os anos passarão,
a mesma serás sempre, e o coração,
como esse interior da terra nunca visto,
a primavera eterna de que existo,
o reflorir de sempre, o dia-a-dia,
o novo tempo e os outros que hão-de vir.

Jorge de Sena

sábado, 25 de dezembro de 2010

Ladainha dos Póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Puxa! Tanta saudade!


Que saudade (do puff do teu quarto) … A casa sem ti já não era a mesma, sabias? Como é que eu hei-de explicar? Havia mais espaço para me espreguiçar, é verdade, mas faltava tudo. O teu sorriso alegre, a tua voz, doce e meiga, a chamar por mim, essa mão a afagar-me, o estalar dos teus dedos, mágico, que tanto me encanta. Puxa! Da próxima vez que saíres leva-me contigo, prometo portar-me bem. Agora não te vou largar tão cedo

Ouvi dizer que os gatos de lá eram enormes, mas será que arranham como os de cá? Vá, deixa-me enroscar no teu colo, conta-me tudo, temos tempo, e eu não quero perder pitada. 

Runhauuuu.

Aguardando o regresso...


Hoje é o dia ansiosamente aguardado, o regresso da nossa menina.

Ela vem de Aarhus (Dinamarca) onde esteve a fazer Erasmus, por isso rumámos à capital para a receber de braços bem abertos. Enquanto a hora do reencontro não chega, aqui estamos em casa da estudante a “passar o tempo”, i.e., a mãe a limpar e arrumar, eu no papel mais ingrato a fazer o ponto da situação.



Depois do almoço fomos até ao Parque das Conchas debaixo de um céu muito cinzento e no regresso a casa passámos pelo Super para atestar a dispensa. Agora que a limpeza está concluída, só nos resta esperar…



Voltei ao computador, olhei pela centésima trigésima quarta vez para o relógio (será que a pilha está a ficar fraca?), perscrutei os céus e pareceu-me ver um pouco mais de azul.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Quem espera...

E não é que “o rabo é o que custa mais esfolar”?!...

Já só falta um...





A passo, a trote, ou a galope da música, tudo vale para ultrapassar barreiras e encurtar a distância. 



Dedicatória

A ti para que não julgues
Que a dedico a outra

Almada Negreiros

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Dois...



"Foi Um Sonho Que Tive"

Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão
E a estrela ia subindo azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.


Miguel Torga

domingo, 19 de dezembro de 2010

The Mean Kitty Song

Já vi este "filme" e vocês?

Três...



Não sou nada. 
Nunca serei nada. 
Não posso querer ser nada. 
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Alvaro de Campos

sábado, 18 de dezembro de 2010

Quatro...



La vida es sueño

Yo sueño que estoy aquí
destas prisiones cargado,
y soñé que en otro estado
más lisonjero me vi.
Qué es la vida? Un frenesí.
Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño:
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son.

Calderón de la Barca

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Cinco...



E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Seis...



Creio nos anjos que andam pelo mundo

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen

Natália Correia

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Sete...




Confiança

O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...

Miguel Torga

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Oito...


AUSÊNCIA

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

                          Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

As Notas da República (1911-2001)



É já amanhã, dia 14, o lançamento do livro “As Notas da República”, da autoria do nosso conterrâneo Luís Manuel Tudella.


Nove...




O Segredo é Amar


O segredo é amar. Amar a Vida 
com tudo o que há de bom e mau em nós. 
Amar a hora breve e apetecida, 
ouvir os sons em cada voz 
e ver todos os céus em cada olhar. 

Amar por mil razões e sem razão. 
Amar, só por amar, 
com os nervos, o sangue, o coração. 
Viver em cada instante a eternidade 
e ver, na própria sombra, claridade. 

O segredo é amar, mas amar com prazer, 
sem limites, fronteiras, horizonte. 
Beber em cada fonte, 
florir em cada flor, 
nascer em cada ninho, 
sorver a terra inteira como o vinho. 

Amar o ramo em flor que há-de nascer, 
de cada obscura, tímida raiz. 
Amar em cada pedra, em cada ser, 
S. Francisco de Assis. 

Amar o tronco, a folha verde, 
amar cada alegria, cada mágoa, 
pois um beijo de amor jamais se perde 
e cedo refloresce em pão, em água! 

Fernanda de Castro

domingo, 12 de dezembro de 2010

Dez...



Pobre Velha Música!


Pobre velha música! 
Não sei por que agrado, 
Enche-se de lágrimas 
Meu olhar parado. 

Recordo outro ouvir-te, 
Não sei se te ouvi 
Nessa minha infância 
Que me lembra em ti. 

Com que ânsia tão raiva 
Quero aquele outrora! 
E eu era feliz? Não sei: 
Fui-o outrora agora. 

Fernando Pessoa

Simon's Cat in 'Santa Claws'

Querem ver o vídeo que a minha menina (ainda a debater-se com os exames) me mandou? 


Tenho que reconhecer que, ao pé deste pequeno diabo, os cá de casa são uns autênticos santinhos.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Onze...


Mãos

Benditas sejam as mãos
Que tecem os fios da vida…
Mãos que oram e pedem;
Mãos que oferecem guarida;
Mãos que aproximam
E mãos que agradecem;
Mãos que a dor aliviam
E mãos que curam feridas;
Mãos que aplaudem
E mãos que acariciam;
Mãos que escrevem sábios dizeres
E mãos que pintam poesia;
Mãos que tocam as cordas
Sensíveis do coração;
Mãos que trabalham e suam,
Mãos que plantam o trigo,
Mãos que fazem o pão…
Benditas sejam, ó mãos, que regem
A grande orquestra da Vida!
Alencar Medeiros

Asas de Anjo - Exposição de Pintura

Foi ontem inaugurada na Galeria da Lizquadro a Exposição de Pintura de Carla Figueiredo.


Amigos, alunos, familiares da artista, gente anónima, mas todos eles amantes das artes, viram os trabalhos e felicitaram a artista.







Estas obras irão estar expostas até 22 de Janeiro, mas não se atrase, olhe que o tempo, mesmo sem asas, voa.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Contagem decrescente



As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas de mãos. 

E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


(Manuel Alegre)


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Natal está quase a chegar...




Ontem, como manda a tradição cá de casa e sem que eu atrapalhasse, foi feita a árvore de Natal, 











montado(s) o(s) presépio(s) e































colocados os enfeites.





Este meu alheamento, nada a ver com o facto de ser homem, foi propositado. Achavam-me capaz de tirar esse prazer à Mãe Natal? 


Que grandes maldosos que vocês me saíram!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"O Povo e o Monumento" - Artur Franco expõe na Batalha




Neste dia cinzento e chuvoso da Imaculada Conceição, Padroeira do Reino de Portugal, fui à Vila da Batalha visitar a exposição de aguarelas, “O Povo e o Monumento”, de Artur Franco. 







Tive o privilégio de trocar dois dedos de conversa com o artista e esposa, que me guiaram e confirmaram algo que eu já sabia, “atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher”.



Dizem que “Santos da terra não fazem milagres”. Há que acreditar e ter Fé, “faz o que te digo, não faças o que eu faço”…




Ainda duvida? Então faça como S. Tomé, vá lá e confirme. 






terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Exposição de Pintura



É já próximo dia 10 de Dezembro pelas 20horas que vai ser inaugurada a exposição de pintura - Asas de Anjo – de Carla Figueiredo, na Galeria da Lizquadro, na Avª Marquês de Pombal em Leiria.

 Natural de Alcanena, esta jovem artista concluiu o curso de pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes em 2005, é detentora de vários prémios encontrando-se já representada, entre outros locais, na Fidelidade Mundial Confiança.

Esta exposição poderá ser visitada de segunda a sexta, das 9H00 às 13H00 e das 15H00às 19H00 e aos sábados das 9H00 às 13H00. À pintora e professora Carla Figueiredo formulamos um desejo sincero, que estas Asas de Anjo a levem tão longe quanto merece. 

sábado, 4 de dezembro de 2010

Dedicácias - Jorge de Sena



Acabei de ler estes poemas satíricos de Jorge de Sena, crítica sem apelo nem agravo aqueles que não estiveram “à altura da medida que deviam” e, nem por sombras imagino o que ele teria hoje a dizer.

São Homens como este que fazem falta ao país.