quarta-feira, 18 de abril de 2012

Balada dos Aflitos


Irmãos humanos tão desamparados
a luz que nos guiava já não guia
somos pessoas - dizeis - e não mercados
este por certo não é tempo de poesia
gostaria de vos dar outros recados
com pão e vinho e menos mais valia.

Irmãos meus que passais um mau bocado
e não tendes sequer a fantasia
de sonhar outro tempo e outro lado
como António digo adeus a Alexandria
desconcerto do mundo tão mudado
tão diferente daquilo que se queria.

Talvez Deus esteja a ser crucificado
neste reino onde tudo se avalia
irmãos meus sem valor acrescentado
rogai por nós Senhora da Agonia
irmãos meus a quem tudo é recusado
talvez o poema traga um novo dia.

Rogai por nós Senhora dos Aflitos
em cada dia em terra naufragados
mão invisível nos tem aqui proscritos
em nós mesmos perdidos e cercados
venham por nós os versos nunca escritos
irmãos humanos que não sois mercados.

Manuel Alegre

8 comentários:

  1. Não há Santa que nos valha... já emigraram todas.

    Bjos

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  2. Um poema muito oportuno. Cada vez há mais gente sem valor acrescentado, pelo contrário, o nosso valor está cada vez mais reduzido!

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  3. Acho que já nem a Srª dos Aflitos nos pode valer...

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  4. Coro:

    - Ámen

    Sempre apreciei o estilo e a poesia de Manuel Alegre.

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  5. Oi Rui
    Insisto que o pessimismo português é apurado e nem tem como descobrir a força que um povo unido é capaz de provocar!
    Um poema um tantinho sem esperança,desse jeito a santa nada vai poder fazer rsrs
    gosto do poeta, sempre o leio.
    um abraço Rui

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  6. Nunca imaginei ver o Manuel Alegre de joelhos a rezar aos santinhos...

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  7. Tinha que deixar aqui o meu comentário à "Orquídea Selvagem".

    De facto, custa olhar e ver o Manuel Alegre a rezar aos santinhos, em vez de erguer o punho cerrado e gritar!...
    Um tanto desiludido com a vida, com o rumo que o Homem está a traçar para si próprio, a deixar-se embalar com as promessas de alguns e a diabolização do Futuro que os políticos da atualidade se comprazem em usar como arma de subjugação das massas populares!

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