sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Um Sopro de Poesia


Contemplando o azul do céu sentiu no ar um sopro de poesia
Fez asas das palavras e voou com as aves para dentro do poema.


Bom fim de semana!



quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A Adiada Enchente



 Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.

Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei

como um rio aguarda a cheia.


(Mia Couto)

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Evasão...


" Um livro é uma janela pela qual nos evadimos. " 


terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Gato

Minnie (a gata), na sua janela preferida

O gato, à sua janela,
ao Sol, que brilha fulgindo,
vai dormindo
vai pensando
e vai sonhando:

- «Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela ...»

O gato, à sua janela,
ao Sol, que brilha fulgindo,
vai dormindo,
vai pensando
e vai sonhando:

- «Pelas noites de invernia,
quando o vento, num lamento
muito lento, muito longo,
muito fundo, de agonia,
ruge e muge,
e a chuva bate à janela,
nos vidros fina a tinir...,
ai com é bom,
ai como é bom dormir
ao serão, todo enroscado
ao pé do lume doirado,
fazendo ron-ron, ron-ron..."

-«Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela ...»

O gato, à sua janela,
ao Sol, que brilha fulgindo,
vai pensando,
vai dormindo
e vai sonhando:

- «Não tenho inveja a ninguém:
nem aos pássaros no ar
a voar,
nem aos cavalos saltando,
galopando,
nem aos peixinhos no mar
a nadar;
não tenho inveja a ninguém,
aqui da minha janela
onde me sinto tão bem ...»

- «Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela ...» "
  

Afonso Lopes Vieira  

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Retrato


Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
A minha face?


(Cecilia Meireles)

domingo, 24 de agosto de 2014

O Cão



O cão que faz ão ão
É bom amigo como os que são
É bom amigo, bom companheiro
É valente, fiel, verdadeiro
E leal serviçal.
Tem bom coração
Que o diga o seu dono
Se ele o tem ou não
Quem vem de fora,
E chega a casa, é o cão
Quem diz primeiro
Todo prazenteiro,
Saltando e rindo
Contente,
E com olhos a brilhar de amor:
- Ora seja bem vindo
O meu senhor.
O cão que faz ão ão
É bom amigo como os que são.


(Afonso Lopes Vieira)

sábado, 23 de agosto de 2014

Metade



Metade

Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Doce (Re)Canto...


"... Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
por vê-los nus e suados."


(Eugénio de Andrade)


Estes (já não são os primeiros da época) até os passarinhos gostam.
:)

Bom fim de semana!


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Revelação


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

(Fernando Pessoa)

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Dia Mundial da Fotografia


"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura."


(Alberto Caeiro)

domingo, 17 de agosto de 2014

Brinquedo


Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão,
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel á sua mão

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.

(Miguel Torga)

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ténis - Dupla invicta


Selfie da filhota

Esqueçam, o piso lento de Roland Garros, ou a relva de Wimbledon, Martina Navratilova, Steffi Graf, as manas Williams, Bjorn Borg, Andre Agassi, Jonh Mc Enroe, Boris Becker, Rafael Nadal e tantos outros. Aqui, na Praia do Pedrógão, o piso é outro e jogadores como estes não se encontram todos os dias...

:)

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Bucólica


BUCÓLICA

A tarde, doce como um fruto, cai,
De madura, no chão.
Venha alguém apanhar
A Vida!
Ou já não há quem saiba desejar
A maçã proibida?


Miguel Torga , Diário Vols. I a VIII

...........

Ameixas, tomates, xuxus... aqui não há maçãs proibidas, só bichadas.
:)


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Fim de Semana


Estirado na areia, a olhar o azul,
ainda me treme o parvalhão do corpo,
do que houve que fazer para ganhar o nosso,
do que houve que esburgar para limpar o osso,
do que houve que descer para alcançar o céu,
já não digo esse de Vossa Reverência,
mas este onde estou, de azul e areia,
para onde, aos milhares, nos abalançamos,
como quem, às pressas, o corpo semeia.

Alexandre O´Neill, Poesias Completas

domingo, 10 de agosto de 2014

sábado, 9 de agosto de 2014

Grande Malha...


"Um homem só tem dois braços e a vida inteira lavra
a terra que não é dele e muitas vezes morre sem uma palavra
de protesto."


in “Terceira Idade” de Mário Dionísio.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Dia Poético



DIA POÉTICO

Que lindo dia
De poesia
Se pôs!
A manhã baça,
O jornal carrancudo,
E, de repente, tudo
Cheio de luz e graça!

E que não há milagres!
Há mas são destes, que não provam nada…

É uma pena
Que a nossa alma seja tão pequena,
Ou já esteja ocupada.


(Miguel Torga , Diário Vols. I a VIII)

...


O mais simples fez-se, agora vamos passar à fase das compotas.
Sorte é ter quem me ajude… ou pensavam que o doce era só para mim?
:)

Bom fim de semana!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A Gaivota



Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

Alexandre O´Neill






quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Navegar, Navegar


"O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê."


(Platão)

domingo, 3 de agosto de 2014

Jogo da macaca


Largo dos Trigueiros, Lisboa.

Naqueles tempos não havia consolas... mas era um consolo.
:)


sábado, 2 de agosto de 2014

Almada... de um lado e doutro


"Reminiscência" - Escultura efectuada a partir do desenho “Auto-Reminiscência”, de José Almada Negreiros, que poderá ser vista junto à Ribeira das Naus, em Lisboa.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Portugal, andas tão mal...



País de azulejos partidos
de erva trepando entre paredes em ruína
País entregue à sua sina
sem olhos e sem ouvidos
  
País voraz ruminando o almoço
rindo ou chorando incapaz de sorrir
País de corpo aberto a quem está a seguir
País do rastejar entre a pele e o osso

Pulinhos para trás e para a frente
de polegar na cava do colete
foguetes procissões uns copos de palhete
país da pequenez de si mesma contente

País indiferente aos que dão por ele a vida
País herói se não há perigo em sê-lo
País de velhos do Restelo
dado à mão-baixa perto e consentida

País que tudo quer e nada quer tudo suporta
País do faz como vires fazer
País do quero lá saber
do quem vier depois que feche a porta

 MÁRIO DIONÍSIO
Terceira Idade

(1982)