terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Meu Presépio de Natal


Nesta quadra, outrora muito querida para mim, gostaria de partilhar convosco o Meu Presépio de Natal e também, porque não me deixam indiferente, estes escritos de Miguel Torga.



"A braços com os meus fantasmas, que nunca deixam de estar presentes nesta data, vou atiçando o lume da lareira. É meu Pai, é minha Mãe, é meu Avô… Estão sentados a meu lado, calados, num recolhimento letal. Vieram porque eu vim, e como há muito me disseram tudo o que tinham a dizer, fazem-me apenas companhia. É uma consoada que não compartilha o resto da família, que já dorme. A noite é comprida, e nenhum de nós tem pressa. E vamos deixando correr as horas sacrais, à espera da luz da manhã. Nela, eles regressarão discretamente ao mundo tranquilo dos mortos e eu acordarei estremunhado no mundo inquietante dos vivos. Até que outro Natal nos junte de novo, aqui ainda, unidos pela minha memória, ou lá onde os imagino lembrados de mim no eterno esquecimento. "

S. Martinho de Anta, 24 de Dezembro de 1977 – Miguel Torga

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Lenda do Lis e Lena (*)


Era ainda um imberbe adolescente, mas de longos cabelos, quando comecei a frequentar, pouco seguro e meio envergonhado, os cafés de Leiria. Nesse tempo já longínquo os meus preferidos eram a Esplanada, onde a malta se juntava, o Colonial, para jogar o bilhar e o Colipo, supostamente para ler e estudar mas sobretudo observar…

Se os primeiros embora descaracterizados ainda existem, o último que possuía um belíssimo painel “Lenda do Lis e Lena”, da autoria de Augusto Mota, já não teve a mesma sorte, está vivo apenas na memória de uns quantos e, como é sabido, a erosão do tempo acabará inevitavelmente por extingui-la.

Esta tela que acabo de pintar com a preciosa ajuda da professora Dulce Bernardes é uma cópia desse enorme painel que então decorava o Café Colipo. Vocês nem por sombras imaginam o prazer que tive em fazê-lo e vir agora aqui mostrá-lo.

(*)
Nasceu o rio Lis junto a uma serra
No mesmo dia que nasceu o Lena;
Mas com muita Paixão, com muita Pena
De seu berço não ser na mesma Terra.

Andando, andando alegres, murmurantes,
Na mesma direcção ambos corriam;
Neles bebendo, as aves chilreantes
Cantavam esse amor que ambos sentiam

Um dia já espigados, já crescidos
Contrataram casar, de amor perdidos
Num Domingo, em Leiria de mansinho...

Mas Lena, assim a modo envergonhada
Do povo, foi casar toda enfeitada
Com o Lis mais abaixo um bocadinho.

Marques da Cruz
1888-1958

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Arte em Barcelona

Sempre que penso viajar conto com o apoio incondicional da minha cara-metade que, ao confiar-me em absoluto toda e qualquer decisão sobre voos, hospedagem, locais a visitar e onde comer, me ajuda imenso com as suas simples mas sábias palavras – “escolhe tu, para mim está tudo bem”.

Este ano e para variar fui comemorar a Restauração da Independência de Portugal em casa do “inimigo” mais concretamente à capital da Catalunha, só para mostrar a “nuestros hermanos” que apesar das nossas aparentes fragilidades temos muito para dar e ainda mais para exportar. Sim, isto de independência não é para quem quer… não fossemos nós ajudar a Zara, o Corte Inglês, ou a Cortfiel, queria ver como se safavam.

O primeiro local onde nos deslocámos foi ao Poble Espanyol, construído para a Exposição Internacional de 1929, aí nos detivemos um par de horas a contemplar a colecção permanente da Fundação Fran Daurel e a exposição de pintura e escultura figurativa ´09 promovida pela Fundació de les Arts i els Artistes. Estas obras que aqui poderão ser visualizadas, na minha modesta opinião, ofuscam por completo as existentes na Fundació Juan Miró.

E porque a visita é longa, cansativa e por vezes enfadonha, hoje ficamos por aqui. Quem sabe se voltaremos noutra ocasião para vos dar conta do que vimos no Museu Picasso, na Caixa Fórum Barcelona e claro nas famosas ramblas.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

"Mudar de moleiro mas não de ladrão"

Charles Dickens dizia que o homem é um animal de hábitos e eu, que não sou excepção à regra, confirmo-o. O facto de ter estado privado, desde o dia 25 de Novembro, do uso de telefone fixo e internet tolheu-me movimentos, baralhou-me ideias e, acima de tudo alterou-me rotinas, o que nós os mais velhos, independentemente da fé, cumprimos religiosamente.

Apesar dos meus insistentes pedidos de assistência técnica, pessoalmente na loja e mails diários, a Zon TV Cabo foi incapaz de resolver a anomalia, à qual eu era totalmente alheio mas vítima. Como resposta e para me “tranquilizarem” foi-me dito diversas vezes que estavam a analisar a situação.

Dizem que a paciência tem limites (a bondade, o amor, o respeito pelo próximo), eu afirmo que a incompetência não os tem, daí que o passo seguinte foi plasmar no Livro de Reclamações o que me ia na alma. Aproveitando a onda ou maré de azar, depende da perspectiva de quem quer surfar ou nadar, dei conhecimento à Anacom.

Fosse ou não do espírito natalício o certo é que dei com os pés na Zon TV Cabo, retornei à Portugal Telecom, ciente de que “mudei de moleiro mas não de ladrão".