segunda-feira, 7 de novembro de 2011

É Preciso Também Não Ter Filosofia Nenhuma

Lisboa (Alfama) - Março 2011

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa


23 comentários:

  1. Diz a janela:
    "Abro, logo existo" ou mesmo "só sei que tenho vidros duplos"

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  2. Ser grande é ótimo mas ser incomensurável é perfeito!

    =)

    Beijocas, seu moço.

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  3. Rafeiro Perfumado:
    Se fecho desisto
    Se abro insisto
    Uso óculos
    E não enxergo.
    :)

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  4. Luna Sanchez:
    Tipo Toy Story, "até ao infinito e mais além".
    :)

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  5. Ainda ampliei a ver se um dos números das portas era o 27, mas não.

    Fiquei bloqueado.
    Não há filosofia que resista a tamanha fatalidade!

    Como é que aquelas janelas, talvez viradas para o Tejo, conseguiram inspirar um poema tão inconjunto como este?
    Do que uma pessoa se lembra de rebuscar no baú!?

    Existo, logo penso

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  6. Oi Rui
    Gosto e já publiquei diversas vezes o poeta que sa.
    esse de Alberto Caieiro já conhecia.
    Li nao sei onde que ..."o que se pode ver à luz do sol é sempre menos interessante do que o que se passa por detrás de uma vidraça".
    será? há controversias ... rs
    bonita a foto com roupas estendidas à varandinha bem a gosto dos portugueses rs em plena Lisboa!
    haja filosofia ... rs
    abraços Rui

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  7. corrigindo o primeiro parágrafo:
    ... o poeta que sabe se multiplicar em vários.

    * meu teclado é tão temperamental e ancioso, que sempre corta pedaços que nao pedi rs

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  8. Só é assim se nos prendermos em demasia à filosofia e não nos permitir-nos ler o que está para além desse conhecimento...a acção!!!
    Abraço

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  9. as-nunes:
    Não sou poeta, não lhe sei responder, mas "conheço" alguns...
    :)

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  10. Lis:
    Quando a chuva vem sem avisar é uma chatice. Molha-se a roupa e lá vai a poesia por água abaixo...
    :)

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  11. CF:
    Nem me fale em acções... ultimamente é mais obrigações, obrigações...
    :)

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  12. Absolutamente desconcertante este Fernando Pessoa, seja qual for o heterónimo em que escrevia. Mas não nenhum outro como ele!

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  13. Shiu! O que é belo não se comenta, frui-se... :)

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  14. Malena:
    Pediste para me calar...
    Não te vou contrariar.
    :)

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  15. Absolutamente incontornável, Alberto Caeiro!
    Obrigada pelo poema...

    Abraço

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  16. Lindo este Poema que eu desconhecia!
    Obrigada por trazer para o seu blogue poemas que nos enchem a ALMA e que, às vezes, enriquecem o nosso conhecimento....foi agora o meu caso...
    Obrigada e traga mais maravilhas...são sempre preciosas...
    helena

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  17. Helena:
    Eu é que lhe agradeço as suas palavras.
    Bem Haja!

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  18. Obrigada por Fernando Pessoa e suas razões :) parece-me que olhar só a olhar é difícil,que tendemos ao artifício do que em nós já foi construído. Olhar o mar só a vê-lo, a rua apenas sendo o que mostra, é a hipótese da beleza pura. Tanta vez sem a consciência do bem que nos olhos mora. Mas que não deixa por isso de ali morar.

    E, sim,, o poeta tem razão. Não há ideias. só sentidos a arrebatar.

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