Há quem diga que para um homem ser completo deve fazer três coisas na sua vida: “plantar uma árvore, ser pai, escrever um livro”.
Se o meu pai hoje fosse vivo faria anos e seguramente a família juntava-se para lhe cantar os parabéns. Mas este dia, é apenas mais um que se desfolha como tantos outros, não será jamais o do aniversário do meu pai.
Permitam-me partilhar convosco este auto-retrato que ele fez em 1965.
Auto-Retrato aos Quarenta
Permaneci saudoso a recordar
O que passei na doce mocidade
Na minha aldeia perto da cidade
P´ra onde fui ao tempo labutar
Não havia por certo no lugar
Garoto mais travesso na idade,
Afirmo-o com vergonha, sem vaidade,
Para que bem se possa ajuizar
A traquina juventude se enlaçou
Com laivos de malícia, saltitando,
Até que em claro momento se alterou…
Outros anos depois foram passando,
Mas a lição aprendida resultou
Na graça que me vem orientando
Manuel Jerónimo Pascoal
in Recortes de Uma Paixão - Testemunhos de 50 Anos de Jornalismo