Há dias que parecem voar como folhas de árvores sopradas pelo vento e há outros, calmos como o deslizar do fio de água da nascente que lentamente engrossa o caudal e em vez de se escoar desafortunadamente no mar é carinhosamente retido pelo abraço apertado da barragem. Assim foi o meu (nosso) fim-de-semana, cheio, pleno, transbordante.
Sexta-feira à noite fomos ao Teatro José Lúcio da Silva assistir a um concerto da Gleen Miller Orchestra. Na manhã de sábado, ainda com o som do jazz e swing nos ouvidos, rumámos à capital até casa dos herdeiros por via de uma entrega de artigos de primeira necessidade: roupa e comida. Depois do frigorífico e estômago devidamente abastecidos (o caril de galo caseiro estava óptimo), do lixo e embalagens (de uma ou duas semanas???) despejados, fomos de passeio até Cascais.
Pelo caminho recordei, inevitavelmente, histórias de outros tempos onde fui protagonista e desempenhei com toda a dignidade diversos papéis (namorado, auditor, condutor em noite de apagão…) Embora já retirado desses palcos é com nostalgia que relembro esses momentos que deixaram marcas. Chegados à velha vila piscatória sentámo-nos numa esplanada em frente ao mar. O Sol, envergonhado, não ousou aparecer. Mais atrevido um músico de sotaque brasileiro bem o tentou mas também não chegou a brilhar. Não querendo perder o Norte seguimos em direcção ao Farol Museu de Santa Marta. Este levou-nos para longe do perigo e guiou-nos com encantamento e fascínio até à sua história passada e recente.
Já cá fora, na Marina, o dia começava a escurecer e nós, agora um pouco mais iluminados pelas lanternas candeeiros e ópticas, atravessámos o parque quando os pavões recolhiam aos seus aposentos. Do outro lado a aguardar por nós estava A Casa das Histórias da Paula Rego. Calma! O espaço só fecha às 22horas. Primeiro vamos até à cafetaria que esta coisa de ver Arte com a barriga vazia não é fácil.
Só depois, e devidamente munidos de um esclarecedor audioguia, fomos contemplar calmamente as obras expostas. Talvez, por se tratar da segunda vez que observamos os trabalhos desta artista (a primeira foi há dois anos em Madrid), a sua receptividade tenha sido hoje maior. Impossibilitados de trazer para casa “A menina fazendo cócegas ao cão” (um acrílico de 1983) contentámo-nos com o livro Colecção. Como o passeio e esta crónica já vão longos vamos ficar por aqui com a promessa de outro dia voltar. Tenham uma boa semana!