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Óleo sobre Tela 30x40cm
"(In)Justiça"
Rui Pascoal - 2016 |
"...Agora mesmo,
neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa,
alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse
existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam
o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente
justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de
vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e
viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um
lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira
quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exato e
rigoroso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à
felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma
justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse
a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da
própria sociedade em ação, uma justiça em que se manifestasse, como um
iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser
humano assiste."...
(José Saramago)