Poligamia cromática
sem presunção nem acidez
vejo autenticidade
leio razão e crédito
sinto a íris deste espelho
que encandeia e clarifica
privado de critério alheio
dos arrimos estáveis
dos preceitos seguros,
do aconchego colectivo
franqueia autonomia
crente nos seus intuitos
lacerado pela urgência
fustiga a tela,
funde-se nela
adula-a, convence-a
capricho desaforo quanto zelo
o q queria e cria passa a sê-lo
peculiar percepção
que tu entalhas
outras malhas
de arrestar o delito
confronto, analogia
com gana, ironia, deformação
torrente de teimas inusitada
em desmedida paleta
coras e amas fruis
nada que te comprometa
laranjas sóis azúis
treinou, exercitou,
insistiu e persistiu
com certeza
com destreza
arroubo da criação
vincada em nesga
tinta esquisso borratão
o Rossio na Betesga
o desenho o (im)possível
perfeição inantingível
mas que de tentar
vai (in)satisfazendo
em distinto altar
de rosa e aloendro
mil faces perdidas no pitoresco,
projectando-se em corpóreo reflexo
que autentica a sua assinatura.
fascínio pela mulher
sedutora em toda a escala
na fruição da tarefa
na espontaneidade do momento
na esperança do (re)encontro
altiva, escrutinadora, assertiva, soberana
expectante, idealista, saudosista
alvoraçada descontraída confiante
introspectiva vacilante, inquieta, resignada, pueril
nunca só nem meditabunda
o autor detém o impulso e a graça
no desconcerto da barafunda
o calor e a dor dos catingueiros
magnetismo, exuberância vivacidade
inequívocos recados do olhar
frisos de cor, realce da forma, máscara do conteúdo
o contraste que nos golpeia o entendimento
abastece o vazio de plenitude
nos impõe comentário e movimento
a ingenuidade, o sobressalto do frenesim
o arraial em combustão
o lazer, a nostalgia,
o comezinho, a carência e o defeito
o ronrom
cardos afectos
de bichanos
de humanos
circum plexos
voz, cor e traço
indício de inconformismo
o ideal,
que nem olhos enxergam nem dedos tocam,
escorre em amansado rebuliço
vibrante vívido virginal
portas, janelas,
espreita espera
luz e negrume
tudo isso
o pintor brune
fantasia ondeando
secreta poesia
estridulado feitiço
rasto a palmear
porvires entretanto
enquanto
adejam alucinadas borboletas
arrematamos a síntese agora
desnudar o autor inda demora
arte é p´ra enlanguescer e regenerar
o homem buliçoso, atónito, insaciado
…
Inexequível alcançar a sua identidade
Graciela Neves 5/10/2013
Identidade
De Pedro Mexia
A identidade, como a pele,
renova-se, perde-se de sete
em sete anos, muda no mesmo
corpo, torna diferente
a permanência humana.
A identidade é a soma
das intenções, uma foto
instantânea para um propósito
imediato que não dura.
A identidade é um equívoco
Para camuflar o coração.
Ver apresentação completa neste vídeo feito pela filhota