A Felipa tem um espaço muito acolhedor que se chama “Pausa para o café”. Às vezes passo por lá, bebo uma bica (curta mas escaldada), leio as últimas, dou dois dedos de conversa e saio com outro ânimo. Será da cafeína?
Hoje, enchi-me de coragem, peguei num guardanapo de papel e rabisquei estas palavras:
Não é preciso dizer
O quanto eu sinto por ti
Se te vejo, fico a arder...
E a brilhar como um rubi
Claro que tive o bom senso de não assinar, assim já ninguém ficará a saber quem o escreveu.
Este é o mês do Coração, de Maria (mãe de Cristo), das outras Mães, da Fertilidade, das Flores, dos Amores (perfeitos ou não), das favas (contadas?). Fazendo fé na meteorologia, haverá aguaceiros, que poderão ser fortes, e condições favoráveis à ocorrência de trovoada.
A água que tem caído fez-me lembrar uma passagem do livro “A Estação das Chuvas”, de José Eduardo Agualusa. “Eu sou como o capim, não dou fruto nem faço sombra. E nesta terra isso é uma coisa boa. Ninguém repara em nós”.
“Maio chuvoso torna o ano rendoso”, lá diz um ditado popular. Com o que aí vem do FMI vai ser uma fartura… resta saber para quem.
Os meteorologistas já nos haviam avisado de que este fim-de-semana iria haver chuva mas esses alertas não me impediram de o passar junto do mar. É bom que chova, sempre ajuda a assentar a poeira… pode ser que no próximo domingo a situação meteorológica do país melhore...
Tenho sérias dúvidas quanto a isso mas já decidi. Irei continuar a acreditar na poesia.
É quando a chuva cai, é quando olhado devagar que brilha o corpo. Para dizê-lo a boca é muito pouco, era preciso que também as mãos vissem esse brilho, dele fizessem não só a música, mas a casa. Todas as palavras falam desse lume, sabem à pele dessa luz molhada.
Artista multifacetado que se dedicou às artes gráficas, plásticas, cerâmica, desenho, decoração, tendo produzido uma vasta obra, onde reflectiu de forma crítica o quotidiano cultural político e social do seu tempo.
Esta manhã desloquei-me ao Museu Bordalo Pinheiro (no Campo Grande) para cumprir uma promessa que tinha feito recentemente (a mim próprio). Comecei a visita através de um pequeno filme sobre a época e o artista.
Retrato de Rafael Bordalo Pinheiro
Óleo s/ tela
Columbano Bordalo Pinheiro 1981
Seguidamente pude contemplar a cerâmica, proveniente da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, peças lindíssimas como esta Jarra Manuelina,
ou estes bustos,
ou estes pratos cestos com peixes.
Na sua obra gráfica o destaque vai para a figura do Zé Povinho, “alegoria tipificadora do Povo Português”, que o veio a notabilizar no país e no estrangeiro.
Quem não se lembra dos cartoons A Política: a Grande Porca; A Finança: o Grande Cão; A Economia: a Galinha Choca; A Retórica Parlamentar: O Grande Papagaio?
Tantos anos passados e a história a repetir-se... uma, duas, três..., tantas vezes. É caso para dizer já basta. "Toma!"
Este jovem cantor e compositor norte-americano acaba de fazer anos, muitos, parte deles a dar-nos música, boa. Quem não se lembra de "Blowin' In The Wind", “Like a Rolling Stone” ou “Things have changed”?
Mas o talento deste artista não se restringiu apenas à música, multifacetado, pegou em tintas e pincéis e pintou, “The Brazil Series”, várias telas com cenas do quotidiano brasileiro. O ano passado estiveram expostas em Copenhaga e tive a oportunidade de as ver.
Quem nunca vi ao vivo e a cores foi a menina do vídeo que se segue. Voltemos ao Dylan, ele bem pode dizer que "ainda" se... tenta.
When The Deal Goes Down
In the still of the night, in the world's ancient light
Where wisdom grows up in strife
My bewildered brain, toils in vain
Through the darkness on the pathways of life
Each invisible prayer is like a cloud in the air
Tomorrow keeps turning around
We live and we die, we know not why
But I'll be with you when the deal goes down
We eat and we drink, we feel and we think
Far down the street we stray
I laugh and I cry and I'm haunted by
Things I never meant nor wished to say
The midnight rain follows the train
We all wear the same thorny crown
Soul to soul, our shadows roll
And I'll be with you when the deal goes down
Well, the moon gives light and it shines by night
When I scarcely feel the glow
We learn to live and then we forgive
O'r the road we're bound to go
More frailer than the flowers, these precious hours
That keep us so tightly bound
You come to my eyes like a vision from the skies
And I'll be with you when the deal goes down
Well, I picked up a rose and it poked through my clothes
I followed the winding stream
I heard the deafening noise, I felt transient joys
I know they're not what they seem
In this earthly domain, full of disappointment and pain
Está a decorrer na Fábrica de Cimento da Maceira-Liz (até domingo) a Semana das Portas Abertas. Habituado a vê-la por fora duas vezes ao dia desde que iniciei a actividade bancária, início dos anos oitenta, tive agora a oportunidade de a conhecer por dentro e não quis perdê-la.
Uma imagem que eu tinha então da Maceira era a cor dos telhados das casas, das árvores, da própria estrada, tudo era cinzento. Quando chovia, o meu Citroen Dyane Nazaré azul-escuro (velha relíquia de que ainda não me desfiz), virava camaleão. Agora o primeiro impacto foi a ausência de poluição. Se em “apenas” trinta anos as transformações são muitas imaginem como era a fábrica quando foi inaugurada (1923). Para facilitar esse exercício da reconstituição do passado e divulgar o seu património lá está o Museu do Cimento.
Esta visita permitiu-me ver a exposição permanente e ficar com uma ideia sobre o processo de fabrico (extracção, britagem, moagem de cru, filtragem, cozedura, moagem de clinquer, embalagem e expedição). Visitei também a Central Turbo-Geradora “instalação construída aquando da montagem da segunda linha de fabrico de cimento (1928), destinada à produção de energia eléctrica através da recuperação do calor dos gases de exaustão dos fornos I e II”. Neste espaço estão actualmente expostos (até domingo) telas de dois amigos (colegas de pintura).
Se ainda não vos convenci a visitar a fábrica lanço-vos um ultimato. Não se atrasem, não fiquem à espera de fazer cimento para a conhecerem, depois pode ser demasiado tarde e o mais provável é perderem o comboio...
A propósito da crise actual não resisto a transcrever um pequeno excerto, da “Cavalgada Cinzenta” (Fernando Namora).
"… As crises, porém, sempre representaram um enriquecimento, mal grado as suas inevitáveis deturpações e as suas máscaras transitórias. E mal grado o seu preço. As grandes transformações da história deveram-se a essas contra-culturas: o cristianismo, A Renascença, o romantismo. Por outro lado, frequentemente, o homem tem de ir até ao excesso antes de corrigir a sua trajectória.”
Temos os instrumentos e sabemos tocá-los mas não conseguimos formar uma orquestra...
Se nos uníssemos, em vez de cada um tocar para seu lado, ficávamos afinados e dávamos música a quem nos tem feito dançar.
Embora já tenha sido há muito tempo lembro-me bem da última noite em que jantámos à luz das velas…
Hoje, ao recordá-la, senti uma certa nostalgia...
Depois do que passámos... deixámos de o fazer por uma única e simples razão. De comum acordo decidimos que isso não voltaria a acontecer, pelo menos cá em casa.
Remédio santo, até hoje. Sempre que a luz falta dispara de imediato uma bateria de emergência.
Já não passamos a noite à vela mas a chama não se apagou como até tem outro brilho. Não dá para ver daí?
Há muito tempo, bem longe daqui, nasceu um menino a quem vieram a chamar Salvador. Essa criança, aparentemente igual a tantas outras, cedo revelou possuir um dom.
Mas a Vida, esse fio de água que desliza pacato entre as margens, nem sempre é assim da nascente à foz. Basta uma simples tempestade para que as águas logo se tornem agitadas e arrastem consigo o que apanham no caminho. E, por mais barragens que ergam para conter essa fúria, de nada adianta, sempre haverá uma fissura.
Este Salvador de que vos falo não é nenhum deus, quanto muito um pobre diabo. Galego, anarquista, com um passado ligado ao narcotráfico, é um pintor de rua com talento que o vai trocando pelo tabaco e álcool. Hoje ele fez o meu retrato e eu tentei fazer o dele.
O fim-de-semana embora tenha sido junto ao mar não deu para ficar “estirado na areia”, pelo contrário, foi até bastante mexido. Sábado, ao final da tarde, duas horas de caminhada e domingo, só para relaxar, quase três horas em cima da bicicleta. Muito peixinho cozido e grelhado, muita água natural e sem gás, saladas variadas e abundantes, fruta com moderação, ausência de doces… uma dieta leve que começa a dar resultados.
Se “ainda me treme o parvalhão do corpo” é sinal de que ainda há muita celulite a perder.
“Foi uma espera interminável. Não sei quanto tempo passou nos relógios, desse tempo anónimo e universal dos relógios, que é alheio aos nossos sentimentos, aos nossos destinos, à formação ou derrube de um amor, à espera de uma morte.”
O parágrafo anterior nada tem a ver com a falha do Blogger mas sim com a minha última leitura.
"O Túnel (Ernesto Sabato)é a confissão de um homem paranóico, submergido no hermético túnel da sua solidão que, por ciúmes, assassina a mulher que ama. Mas o protagonista e narrador, Pablo Castel, também sofre o drama da falta de comunicação num universo que lhe é hostil. Sabato apresenta-nos um grande romance, num tom existencialista, onde um homem sem esperança, devastado pela frustração e pela angústia emocional, inseguro e incapaz, não se adapta à época que lhe foi destinado viver e acaba por enlouquecer”.
Felizmente que a anomalia já foi resolvida, nem quero pensar o que seria de mim (de nós) sem essa "droga".
Numa das recentes deslocações à capital visitei o Museu da Cidade. Instalado num antigo palácio da primeira metade do séc. XVIII (Palácio Pimenta), documenta a história de Lisboa e traça um percurso cronológico da cidade entre a pré-história e a implantação da República.
Possui um vasto espólio, em particular na pintura, desenho, gravura, cartografia, cerâmica azulejaria e arqueologia. Os planos do Aqueduto das Águas Livres e uma gigantesca maqueta representando a cidade de Lisboa antes do Terramoto de 1755 atraíram a minha especial atenção. Como não era permitido fotografar o interior do museu "vinguei-me" no jardim. Olhem para estas peças de cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro, são lindas e combinam bem com os galináceos.
Pavões não faltam por aí... Mais coloridos uns, mais exuberantes outros, todos tentam seduzir-nos e levar-nos à certa. Inebriados diante de plumagens tão vistosas, deixamo-nos ir. O resultado está aí à vista de todos, para durar, sim, que a longevidade dessas aves é muito grande...
Na véspera da nossa partida e em termos de balanço direi que a estadia foi curta mas generosamente recheada. Os contrastes são imensos: muito verde, muito betão, muita simpatia, muito folclore...
À chegada fomos brindados com a 1ª Feira Gastronómica do Atum do Funchal (admito que possa haver quem prefira outro tipo de acepipes).
Na véspera da nossa partida estenderam-nos um enorme tapete de flores - A Festa da Flor da Madeira.
Muito mais há para dizer e mostrar mas vai ter que ficar para outra oportunidade. Agora é hora de ir dar um mergulho. “Adeus e até ao meu regresso”.
Há dezanove anos que já não vínhamos à Ilha da Madeira e a primeira impressão manteve-se inalterável, muita turbulência antes de aterrar. As seguintes foram diferentes, para melhor.
Esta tarde passámos pela rua de Santa Maria, a mais antiga da cidade, que está a ser revitalizada.
A ideia é pintar cerca de duzentas portas, cada qual com sua história, dar uma nova cara a esta zona velha da cidade e transformá-la num museu a espaço aberto. Actividades como estas são uma mais-valia na oferta turística, por isso há que preservá-las.